Comunicação Institucional

Descritivo
O Autor

ABÍLIO DA FONSECA, nascido em Braga, em 1931, é licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e diplomado em Ciências Pedagógicas pela Universidade de Coimbra.
Mestre em Educação/Administração Escolar pela Universidade do Minho, foi professor dos ensinos tecnicos-profissional, preparatório, liceal e secundário e do magistério infantil, bem como Reitor dos Liceus de Viana do Castelo e do António Nobre (Porto).
Além da colaboração em Revistas da especialidade, proferiu inúmeras palestras e comunicações em Congressos na área das Relações Públicas.
È autor dos livros Educação é o Tema (2 vols.); Psicologia da Adolescência, e Dicionário para Relações Públicas.
Presentemente exeerce funções de docênca e, bem assim, de coordenador do Curso Superior de Relações Públicas do Instituto Superior da Maia.

​Do Prefácio

"No Handbook of Organization editado em 1965 por James G. March, à época um esforço notável de síntese e apresentação do estado da arte no domínio da investigação organizacional e hoje obra de referência e testemunho de uma fase do processo de construção da análise organizacional, é significativo o facto de a comunicação nas organizações ocupar um capítulo autónomo da obra. O seu autor, Harold Guetzkow, abre o respectivo texto com a afirmação, hoje aparentemente banal, de que "as comunicações são fenómenos centrais nas organizações".
Se é difícil deixar de reconhecer que o tema da comunicação nas organizações formais sempre constituiu referência quase obrigatória e preocupação no âmbito das teorias organizacionais de pendor doutrinal e pragmático, e desde cedo, também é necessário assinalar que o seu tratamento autónomo é mais recente, especialmente tratando-se de abordagens analíticas e não meramente instrumentais. Mesmo quando a sua valorização (e dignificação) enquanto objecto de estudo ocorreu a par (ou mesmo por via) do maior reconhecimento do papel da comunicação em termos de eficácia no exercício do controlo e da coordenação, de articulação estrutural entre distintas partes e componentes das organizações, de criações de ambientes e climas considerados mais propícios à consecução de certos objectivos e, mais tarde, de relacionamento com o exterior(autoridades, outras organizações, públicos, mercados, clientes...).
Ainda longe de poder vislumbrar o impacto de novos meios e de modernas técnicas de comunicação, como as relações públicas, o marketing e a publicidade, a Teoria Clássica focalizará sobretudo o interior da organização em busca de processos de reorganização e racionalização, procurando alcançar as bases de uma "administração científica". Na busca incessante dos "meios óptimos" e das soluções mais eficazes, que haveriam de conduzir à decomposição e fragmentação do processo de trabalho, os problemas de eficiência interna impunham-se, fortemente associados, de resto, aos problemas emergentes do controlo social e da disciplinação de uma mão de obra não qualificada. A acção das cadeias hierárquicas e de comando, a gestão de redes de interacção complexas subordinadas a uma tecnologias de "ligação em cadeia" e à produção em série, o planeamento e a programação das tarefas, desde os departamentos pensantes até aos executores periféricos, exigiam sistemas de comunicação (ainda que unidireccional) cada vez mais sofisticados. E assim, sobre determinada pela agenda do controlo eficaz e da maximização e optimização, a célebre discussão travada entre os defensores da "organização funcional" e os adeptos do princípio da "unidade de comando" (com Henri Fayol à cabeça, criticando as posições defendidas por Frederick Taylor) não deixa de poder ser (re)interpretada à luz das teorias da comunicação eficaz nas organizações.
Será contudo ao Movimento das Relações Humanas que caberá inscrever mais claramente os problemas comunicacionais nas teorias das organizações, seja do ponto de vista da produção normativa seja, também, no que aos estudos teóricos e empíricos se refere. Elton Mayo associará definitivamente, e desde então de forma polémica, a capacidade de o administrador "ouvir" as "requisitos de uma colaboração humana efectiva", tal como Chester Barnard fará da comunicação um dos princípios essenciais da "organização cooperativa" e não hesitará em afirmar que uma organização só existe quando "há pessoas aptas a comunicarem entre si".
Neste registo, pode-se afirmar que a comunicação não mais deixou de integrar o núcleo de questões essenciais abordadas pelas teorias organizacionais, especialmente as de vocação normativa, desde Douglas McGregor com o seu "princípio da integração", passando por Rensis Likert, o seu "sistema 4" e a sua defesa da "comunicação ascendente e descendente", até William Ouchi e sua "Teoria Z".
É porém necessário reconhecer que a produção teórica-normativa, a que aqui se fez apenas breve alusão, representa mais um corpus a ser submetido a análise e interpretação crítica, a partir de focalizações analíticas teoricamente ancoradas noutros portos, do que propriamente referência teórica e conceptual primeira, a partir da qual se pudesse abordar cientificamente e dilucidar o objecto em análise, assim como que preten¬samente pré-construído. E é exactamente aqui que entram em cena, necessariamente, os modelos analíticos, com distinta vocação, solidamente referenciados às Ciências Sociais e a perspectivas de análise desenvolvidas pelas suas diferentes disciplinas, ou no seu cruzamento. Sendo que mesmo estas não podem eximir-se a semelhante exercício de crítica e desconstrução, exercício que vem redundando num diálogo e num pluralismo teorético sem precedentes na análise organizacional.
A investigação em organizações educativas e administração educacional, seja quais forem as opções teóricas e disciplinares convocadas, os estilos de investigação e as opções metodológicas que seleccione, depara-se ainda com outras exigências. Por um lado a consideração (e mesmo a procura) das especificidades sociológicas e organizacionais dos universos educativos e, neste caso, escolares, já comprovadamente aceites e suficentemente representadas em termos teóficos e empíricos, e não apenas no âmbito das Ciências da Educação. Por outro lado, e de forma congruente, a necessidade de evitar simples reproduções teóricas e conceptuais, tantas vezes importadas de contextos e de casos de extracção empresarial, assim se furtando ao necessário diálogo com as teorias e o pensamento educacionais.
O que se propõe não é de fácil realização nem de alcance seguro e certo, havendo que admitir graus de aproximação e sobretudo tensões e contradições nem sempre fáceis de equacionar, embora quase sempre muito estimulantes e proveitosas.
Ao enveredar pelo estudo da comunicação institucional na administração escolar, e em particular ao procurar reflectir sobre o possível contributo das relações públicas, Abílio da Fonseca aceita, procura mesmo, correr riscos, tanto mais que está claramente consciente das orientações académicas que informam o quadro institucional em que realiza a investigação e dos problemas específicos que as teorias e as práticas associadas/associáveis ao tema podem amplificar quando cruzadas com a administração e organização escolares.
Fortemente inscrita, tradicionalmente, no campo das teorias normativas/ prescritivas e conotável com práticas profundamente criticáveis, a pro¬blemática das relações públicas na administração escolar é porém abordada aqui com seriedade intelectual, com rigor e método, através de uma escrita que revela o compromisso pedagógico do seu autor-professor, mas também o prazer do exercício comunicativo e argumentativo. Fica bem patente o entusiasmo do autor pelo tema abordado, as suas convicções cimentadas por uma experiência de muitos anos, que o conduzem a adoptar uma posição favorável, e optimista (por vezes mesmo algo apologética), quanto à possibilidade e ao interesse, teórico e prático, de desenvolver e aprofundar a comunicação institucional na administração escolar.
Fá-lo sem ocultar a sua posição, consciente e conhecedor dos problemas que enfrenta e das críticas que lhe podem ser dirigidas, reunindo dados e argumentos que fazem do seu trabalho um esforço notável de organização e de síntese em torno deste tema, muito mais que uma contribuição empírica de fundo, que de resto não reclama. Fá-lo, acima de tudo, não apenas desocultando, mas desvendando e assumindo com clareza e frontalidade uma posição ética e de compromisso pedagógico que lhe permite o exercício crítico e o confronto com posições que rejeita, mas que não ignora. Para além de outros méritos, que deixo à consideração do leitor, é exactamente isto que mais aprecio neste trabalho, mesmo quando a minha convivência e o meu diálogo com ele nem sempre se demonstraram fáceis perante a minha atitude crítica, e céptica, relativamente aos contornos de índole mais assumidamente doutrinal e sobretudo aos possíveis impactos nas organizações educativas.
Possa, de modo semelhante, o leitor confrontar-se, à sua maneira, com estas páginas, e outros autores, eventualmente, trilharem a partir delas outros caminhos que contribuam para aprofundar o estudo de uma matéria que tem sido ignorada entre nós, e assim beneficiarão desta contribuição de Abílio da Fonseca."


LICÍNIO C.LIMA

Universidade do Minho